Cada criança possui um tempo e uma maneira de aprender. Aliás, não só as crianças. O processo de ensino-aprendizagem é diferente em cada um, independentemente da idade. Algumas pessoas, no entanto, enfrentam dificuldades maiores na hora de aprender. E, muitas vezes, elas vão precisar acessar outras condições de ensino que as auxilie a assimilar e adquirir conhecimentos.
Nestes casos, o trabalho do psicopedagogo é fundamental. É ele quem irá trabalhar para que alunos da educação regular tenham as condições necessárias para se desenvolverem de forma integral.
“A minha preocupação, enquanto psicopedagoga, é melhorar as condições do processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, é preciso investigar as causas da não aprendizagem deste aluno. E, assim, ajudá-lo a enfrentar e minimizar as dificuldades do ensino comum”, afirma a psicopedagoga Cibelle Ausec.
Ela tem licenciatura em Artes Visuais, é formada em Pedagogia, com pós-graduação em Psicopedagogia; Educação Especial; e Transtorno do Espectro Autista (TEA). Além disso, atua como professora da sala de recursos de uma escola pública em Sarandi (PR), onde atende alunos com transtornos de aprendizagem.
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Em sala de aula, alguns alunos podem apresentar mais dificuldades para aprender. Mas nem sempre isso está relacionado a um transtorno de aprendizagem.
Conforme Cibelle, os transtornos estão relacionados a características fisiológicas ou neurobiológicas. “É um comprometimento de aprendizagem que pode ser congênito, ou seja, quando a criança nasce assim. Mas que pode também ser adquirido, como no caso de lesões ou convulsões graves”, explica.
Já a dificuldade para aprender pode estar relacionada a uma instabilidade emocional pontual. Por exemplo, crianças que estejam sofrendo bullying na escola, algum tipo de violência em casa, ou enfrentando um processo de luto.
Além disso, a dificuldadepara aprender também pode estar relacionada a um ensino inadequado, bem como a questões familiares ou à falta de estímulos para estudar em casa.
Conheça os transtornos mais comuns, de acordo com a psicopedagoga Cibelle Ausec.
Dislexia: falha no processamento da habilidade da leitura e da escrita. Este transtorno se apresenta, geralmente, com substituições, omissões, distorções, inversões e adições de letras. Além de lentidão na hora de escrever, leitura de palavras desconhecidas ou pseudopalavras.
Disgrafia: falha na aquisição da escrita. A disgrafia se apresenta de diferentes formas. Por exemplo, dificuldade de aprender a escrever; letra ilegível; dificuldades e lentidão ao digitar, desenhar letras e palavras.
Disortografia: se apresenta na forma de textos mal estruturados. Ou seja, textos desorganizados, com vocabulário pobre e curto, além de muitos erros de ortografia.
Discalculia: é a inabilidade ou incapacidade de pensar, refletir, avaliar ou racionar os processos matemáticos.
TDAH (Transtorno de défict de atenção e hiperatividade): transtorno de aprendizagem referente à atenção. Geralmente, as crianças são desorganizadas, hiperativas e desatentas. Assim, é comum que elas apresentem mais dificuldade para ter foco e fazer as atividades.
Inicialmente, o professor de sala aula é quem irá perceber as defasagens no aprendizado de determinado aluno. Alguns sinais são o comportamento, bem como resultados abaixo do esperado nas tarefas propostas.
Nestes casos, o professor deve encaminhar o aluno para um psicopedagogo ou um especialista em educação especial. Também é possível que os próprios pais percebam a dificuldade e procurem um psicopedagogo
Seja na escola ou no consultório, o psicopedagogo irá investigar as causas dessa não aprendizagem. Assim, ele pode analisar os cadernos do aluno, conversar com os pais, além de verificar como a criança se comporta dentro e fora da sala de aula.
Em seguida, pode ser necessária uma avaliação de um profissional da área da saúde, para completar o diagnóstico e emitir um laudo. Assim, a criança é encaminhada para um neurologista, neuropediatra, psicólogo, psiquiatra ou um fonoaudiólogo. Isso vai depender de cada caso.
Então, com o laudo em mãos, o psicopedagogo cria um plano de intervenção para cada aluno, com base no transtorno que ele apresenta.
Não são todos os pais que têm condições de investir em um tratamento particular com um psicopedagogo. Aliás, essa não é a realidade da maioria dos brasileiros. No entanto, aqui no Paraná, os alunos das escolas públicas com transtornos de aprendizagem têm direito a frequentar uma sala de recursos multifuncionais.
Segundo a professora Ana Cássia Jorge Cestari, mestre em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a sala de recursos é algo complementar ao ensino regular. Assim, as crianças podem frequentar a sala no contraturno escolar.
O atendimento é feito em grupos de até cinco pessoas, duas vezes na semana. “Quando a escola não tem uma sala de recursos, o aluno é encaminhado à escola mais próxima com o serviço. Mas ele não deixa de receber atendimento”, afirma Ana Cássia. A professora trabalha com educação especial há 30 anos, em instituições, escolas e hospitais.
“Na sala de recursos, a dinâmica é diferente. As carteiras não são enfileiradas. Outra diferença é que o professor não usa giz, não usa quadro. Ou seja, não é uma estrutura que o aluno entenda como uma sala de aula.”
As salas são equipadas com materiais que ajudam no processo de aprendizagem. São exemplos: brinquedos e jogos, bem como alfabeto móvel, material dourado, entre outros. Além disso, as diferentes tecnologias aliam-se ao processo. Assim, as salas recebem também computadores e tablets.
Por fim, Ana Cássia defende que a escola precisa ser inclusiva, independentemente de o aluno ter transtornos, deficiências ou enfrentar outras situações. “A escola tem que estar preparada para suprir essas necessidades. Dessa forma, deve ter os materiais necessários. Mas, principalmente, contar com uma equipe de profissionais preparados e especializados, que tragam a empatia e o acolhimento.”
A professora reforça que esse atendimento diferenciado não é um “favor” que a escola presta, é um direito que o aluno tem. “A escola precisa se adequar para atender melhor o aluno. Assim, deve incluir a criança de forma digna, para que ela também possa ter acesso ao conhecimento”, finaliza.
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